Filosofia da Caixa Preta

 

No livro "Filosofia da Caixa Preta" o autor Vilém Flusser aborda a relação entre o ser humano e a tecnologia, focando principalmente em como o fotógrafo e a câmera fotográfica se associam. Nesse viés, tal associação constitui a "caixa preta", na qual o usuário brinca com o aparelho, dominando-o, pois sabe utilizá-lo, porém sendo dominado, pois tenta esgotar um programa inesgotável. Assim, ela é um sistema tão complexo e impenetrável, visto que a relação entre usuário e aparelho é opaca, não sabemos onde um começa e outro termina, estão inseridos em um paradoxo. Flusser nunca foi tão atual, depois de 40 anos da publicação do livro vemos como os conceitos trazidos por ele se veem presentes no uso das novas tecnologias, como o celular e a fotografia digital. O canal entre a imagem (abstração de duas das quatro dimensões) e significado passa a ser o aparelho, através das imagens técnicas, substituindo o papel que antes cabia à imaginação do próprio ser. Assim, essa nova imagem , fruto das tecnologias, assemelha-se para a sociedade ao olho humano, tornando-se necessária para a vivência humana. No entanto, ela está muito mais distante da realidade, a fotografia preta e branca por exemplo é mais real do que a colorida (mesmo o mundo sendo colorido), uma vez que as cores não passam de um processo técnico e artificial advindo da teoria química da cor, que é mais abstrato do que o preto e branco e mais distante do mundo real. Nesse sentido, fica evidente na sociedade, como em shows e eventos, como a percepção de mundo passa a ser concebida através da fotografia, que cria a necessidade de "eternizar" todos atos científicos, artísticos e políticos. Nessa perspectiva, Flusser traz o questionamento "As cenas antes de serem fotografadas se encontram no mundo ou no aparelho?", indagando quanto à natureza técnica da fotografia e como o aparelho domina a visão de mundo atualmente. Por fim, essa dependência e alienação quanto ao processo de criação, que ele denominou de caixa preta, deve ser rompido através da abertura da caixa, tornando-a transparente e acessível, de maneira que a sociedade possa participar ativamente desse processo, retomando o controle sobre as tecnologias. Assim, é necessária uma reflexão constante e crítica acerca dos valores e práticas atuais, fugindo da indiferença que rege o mundo, desenvolvendo uma "filosofia da liberdade", que seria a emancipação do domínio dos aparelhos.   




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